O Casamento de uma Princesa quase brasileira: Victoria
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Desde o casamento entre Lady Di (1961-1997) e o príncipe Charles (61), em 1981, o mundo não presenciava uma boda real tão suntuosa e não via uma noiva tão carismática. Diante de 1200 convidados da realeza, 500 000 moradores que lotaram as ruas de Estocolmo para ver o casal e 500 milhões de telespectadores em todo o planeta, a princesa Victoria (32), da Suécia, e seu ex-personal trainer, Daniel Westling (36), disseram o tão aguardado sim na Catedral de São Nicolau de Estocolmo, capital da Suécia. A primogênita da rainha Silvia (66) e do rei Carl Gustav XVI (64), irmã de Carl Philip (31) e Magdalena (28) e herdeira do trono sueco, justificou sua fama de mulher forte, temperada com extrema simpatia e jeito caloroso. Dona de sorriso contagiante, a futura soberana lutou para subir ao altar ao lado de seu amor, a princípio visto com muitas ressalvas pelo rei.
Persistente, Victoria convenceu a todos de que o homem que conheceu ao acaso, quando lutava para se recuperar de anorexia, merece estar a seu lado. Radiante em modelo criado pelo estilista sueco Pär Engsheden (42), a princesa, que a partir de agora acrescenta ao nome o título de duquesa de Västergötland, transformou o amado no príncipe Daniel, duque de Västergötland. As principais cabeças coroadas da Europa, entre elas Letizia (37) e Felipe (42), príncipes de Astúrias, o príncipe Albert II (52), governante de Mônaco, e sua namorada, Charlene Wittstock (32), testemunharam a realização do conto de fadas. Visivelmente feliz, Victoria não tirou o sorriso dos lábios nem ao verter uma lágrima no momento em que o arcebispo luterano Anders Wejryd (61) convidou os noivos a jurar amor eterno. Emocionado, Daniel ficou com os olhos marejados e teve o rosto enxugado pela noiva, num gesto bonito e delicado.
Figura mais popular da realeza sueca, Victoria parece ter herdado o lado brasileiro da família no quesito comunicação e simpatia. Sua avó materna, Alice Soares de Toledo (1906-1997), pertenceu a tradicional ramo familiar paulista, assumindo então o sobrenome Sommerlath ao se casar, em 1925, com o empresário alemão Walther Sommerlath (1901-1990). O casal viveu dez anos em São Paulo, mudando-se depois para a Alemanha, onde nasceu a rainha Silvia. Um retorno ao Brasil levou a soberana sueca a morar na capital paulista dos 4 aos 13 anos, experiência que a marcou de forma definitiva, tanto que até hoje fala português com fluência e não esquece o sabor doce das jabuticabas. A monarca, que em sua mais recente passagem pelo Brasil, em abril, fez questão de quebrar o protocolo para chegar perto da população, não se cansa de dizer que adora a gastronomia brasileira, especialmente feijoada e vatapá. Desde 1999, quando fundou a World Childhood Foundation, organização voltada ao combate do abuso sexual infantil, a rainha Silvia faz visitas freqüentes ao país para acompanhar o andamento dos trabalhos de sua ONG.
Seguindo os passos da mãe, Victoria se casou no mesmo dia que ela, na mesma catedral e fez questão de usar o mesmo véu e a mesma tiara, a Cameo, uma preciosidade que se acredita ter sido criada em 1809 pelo imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821) para presentear sua esposa, Josephine (1763-1814). O diadema, coberto de pérolas, tem sete camafeus representando figuras mitológicas e acabou se tornando um adorno tradicional das noivas da casa Bernadotte, à qual a família pertence. A joia real compôs à perfeição com o elegante vestido de seda perolada, com cauda de cinco metros de comprimento saindo da cintura, mangas curtas e decote de ombro a ombro. Para o buquê, a noiva escolheu flores típicas do país, incluindo lírios, rosas, peônias, orquídeas e azaleias.
O grande dia da bela herdeira da coroa - Victoria é a futura rainha graças a uma mudança feita na lei sueca nos anos 1980, que permite o acesso ao trono do primogênito, independentemente de sexo - foi cuidadosamente planejado pela noiva, que fez questão de um casamento tradicional, mas com toques de modernidade, como o próprio país gosta de ser reconhecido. Victoria quebrou uma das regras ao optar por entrar na igreja conduzida pelo pai. Diferentemente do Brasil, em seu país os noivos adentram juntos, simbolizando igualdade de ambos tanto na vida quanto na cerimônia. Até mesmo o arcebispo sinalizou seu desagrado com a decisão, mas a princesa foi firme e venceu a batalha. Determinada, foi aos poucos convencendo os pais, especialmente o rei Carl Gustav XVI, de que Daniel, hoje dono de uma rede de academias de ginástica, tinha condições de ser seu marido. "Ele vai conseguir, vai ter sucesso nas tarefas que terá de desempenhar ao lado da princesa", disse a rainha Silvia. Para o soberano, havia dúvidas quanto à capacidade de o noivo, de origem popular, se adaptar ao papel que será exigido dele.
Transcorridos oito anos desde que Daniel foi introduzido à nobreza e à sociedade sueca, o modo como a população o vê mudou. Se antes ele não passava de um rapaz com sotaque do interior, aspirante a um título de nobreza, agora é visto como um empresário e empreendedor, dono de três academias. Foi na qualidade de personal trainer que ele e Victoria se conheceram. Vítima de anorexia, admitida pelo palácio em 1997, a princesa precisava melhorar sua condição física e foi aconselhada pela irmã mais nova, Magdalena, a freqüentar uma nova academia de Estocolmo, um lugar discreto para público seleto. Foi ali que o encontro improvável de dois mundos distintos se deu. O casal namorou às escondidas por um ano. Assumido o romance, o noivo começou a se preparar para as novas funções. O palácio então contratou um time de especialistas em etiqueta para começar a dar o verniz ao jovem, filho de um aposentado de um serviço de ajuda social, Olle Westling, e de uma funcionária dos Correios, Ewa.
"Estou aprendendo muitas coisas, de ciência política a história", contou Daniel. Casar com uma princesa significa seguir uma série de obrigações protocolares, as quais ele se diz preparado para assumir. "A principal missão de uma rainha é dar apoio ao rei. No meu caso, é dar suporte à princesa. Se eu conseguir fazer isso do mesmo modo que as rainhas fazem, ficarei muito feliz." O príncipe tem se esforçado, embora o currículo da amada seja quase imbatível. Victoria estudou na Universidade de Yale, nos EUA, fez estágios na Organização das Nações Unidas, na representação sueca da União Europeia, no Exército e no governo sueco. Aprendeu francês na Universidade Católica do Oeste de Angers, na França, fala inglês e alemão.
Mas ao que parece as arestas sociais foram aparadas. No grande banquete real que se seguiu à boda, a nova família brindou aos noivos, a começar pelo rei Carl Gustav. "Nós, como pais, estamos alegres com a ternura com que vocês se olham. Embora nossa felicidade se misture a um pouco de dor de ver os filhos construir suas próprias famílias." Daniel, por sua vez, agradeceu a acolhida e declarou sua paixão: "Estou grato pelo apoio incondicional do rei e da rainha. Victoria, sinto-me orgulhoso de ser seu marido e farei tudo para continuar a te fazer feliz. O mais importante é o amor e eu te amo muito." Foi a chave de ouro para o conto de fadas dos príncipes, que viverão no Palácio Haga, nos arredores de Estocolmo.
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