“EQUILIBRIO”: QUE PALAVRA É ESTA?, texto da nossa colunista Rosanna Pavesi

Tenho certeza que este texto cairá "como uma luva" para muitas pessoas, como "caiu" para mim nesta época da vida!

Aproveitem, pois a Rosanna Pavesi é psicoterapêuta de tirar o chapéu!

beijos,

Amandica

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por Rosanna Pavesi

"Acordei hoje com esta palavra na cabeça... Como se fez presença, resolvi levá-la a sério e dar-lhe passagem ...

Comecei com uma pesquisa básica no Aurélio, o dicionário, onde se lê:

Equilíbrio: 1) estado de um sistema que é invariável com o tempo; 2) manutenção de um corpo na sua posição normal, sem oscilações ou desvios; 3) igualdade absoluta ou aproximada entre forças opostas; 4) boa proporção, harmonia; figurados: 5) estabilidade mental ou emocional; 6) moderação,prudência, comedimento, autocontrole, autodomínio; 7) estado inalterável.

A psicóloga, em mim, pensou:

1) Nenhum sistema é invariável com o tempo, nem o ser humano, nem a vida, nem o próprio ecossistema planetário pois – de acordo com os princípios da Teoria Sistêmica – todo sistema é, ao mesmo tempo, um subsistema de outro sistema e toda e qualquer mudança em um subsistema afeta o sistema todo que – por sua vez e assim por diante – afeta o sistema do qual ele próprio é um subsistema...

2) Às vezes, na vida, manter sua postura “normal” pode resultar em rigidez; é preciso e oportuno saber lidar com variações, mudanças e oscilações; os desvios também podem ser necessidades impostas pelas contingências do próprio viver sendo então preciso encará-los...

3) Igualdade absoluta entre forças opostas não é aconselhável, pois resulta em estagnação, entropia, parada da vida que é, por natureza, movimento... Igualdade aproximada pode gerar conflito, situação em que dois motivos com aproximadamente o mesmo nível energético “ficam brigando” sem que nenhum dos dois consiga prevalecer, provocando desconforto, alto nível de ansiedade, angustia e insegurança = não se sabe o que fazer, ficamos confusos...

4) Fez certo sentido, se compreendido como a arte do movimento correto, oportuno e harmonioso frente às exigências da vida; equilíbrio este mutável de acordo com aquilo que a situação exigir, equilíbrio sem regras fixas ou predeterminadas; ele nem sempre é dado, precisa ser conquistado e exige envergadura...

Sentidos figurados:

5) Dependendo das circunstâncias da vida, esta estabilidade nem sempre é possível e/ou aconselhável... Quando me apaixono, por exemplo, “perco a cabeça”, mesmo que temporariamente... e então, não vou me apaixonar? Esta estabilidade é, portanto, ideal, irreal, um tanto utópica...

6) Lembrou-me por demais de norma, regra, média, adequação, bom senso, uma “solução de compromisso” entre o desejável e o possível politicamente correto; Os itens apontados como qualidades podem, dependendo da situação, atrofiar nossa espontaneidade e gerar um nível de estresse negativo bastante elevado...

7) Nem pensar...

Nesta altura, outras duas palavras pediram passagem: as palavras “excesso” e “falta total”... Aqui está o que elas me assopraram ...

• Ser ALEGRE, porém sem excessos de extroversão ou simploriedade

• Ser SINCERO, mas falar as verdades com compaixão, sem machucar

• Ser FIRME NAS IDÉIAS e não arrogante

• Ser HUMILDE, mas não submisso

• Ser RÁPIDO, sem ser apressado ou impreciso

• Ser CONTENTE e não complacente

• Ser DESPREOCUPADO, sem ser descuidado

• Ser AMOROSO e não apegado

• Ser PACIFICO, sem ser passivo

• Ser DISCIPLINADO, porém não rígido

• Ser RIGOROSO sem ser dogmático

• Ser FLEXÍVEL e não frouxo

• Ser OBEDIENTE sem perder a capacidade de se indignar quando necessário

• Ser MOLDÁVEL e não uma folha ao vento

• Ser INTROSPECTIVO, porém não enclausurado

• Ser DETERMINADO, sem ser teimoso

• Ser CORAJOSO, e não irresponsável

• Ser PRUDENTE, sem ser covarde...

• Ser OUSADO sem ser insensato...

Assim, na arte do equilíbrio, a coragem, por exemplo, inclui uma pitada de covardia (a prudência), a obediência uma pitada de rebeldia – e assim por diante. Na arte do equilíbrio, não se passa de um oposto a outro numa gangorra infernal, e o excesso, a falta, o desequilíbrio não são eliminados, mas sim contemplados, assimilados, incorporados, acolhidos e muito bem dosados. A arte do equilíbrio e da justa medida não se confunde com uma solução de compromisso, nem é um meio termo entre coisas opostas por suposta falta de escolha, resignação ou comodismo. A arte do equilíbrio é um processo contínuo, um ajuste constante às contingências da vida que nem sempre são justas ou equilibradas...

A meu ver, o grande desafio é aprender a viver cultivando um bom equilíbrio entre as expectativas e exigências de nossa vida interior e as expectativas e exigências dos outros, do mundo... Nem sempre nossas necessidades e expectativas estão em harmonia com as necessidades e expectativas dos outros e do mundo em relação a nos. E, em nosso atual estilo de vida, saber distinguir entre o que é essencial, importante, secundário, supérfluo, prioritário, urgente ou não, também é parte essencial da arte do equilíbrio e do viver.

Como quase sempre na vida, a certeza de estarmos sendo determinados e não teimosos, corajosos e não irresponsáveis, prudentes e não covardes, costuma vir de dentro, de nosso coração e não necessariamente de nosso intelecto ou da lógica. Mesmo que aos olhos dos outros, possamos parecer um tanto tolos, tolos por seguirmos a razão de nosso coração, por nos aceitamos por inteiro, tolos porque somos transparentes conosco e com os outros, pois nada mais temos a esconder, tolos por respeitarmos nosso eixo interior, nossa própria coerência interna, nosso equilíbrio psicológico, tolos porque somos humanos... Mesmo que tudo isto seja invisível aos olhos dos outros e do mundo ou possa parecer outra coisa...

Até,

Rosanna Pavesi

CRP 06/53445-8 - Psicóloga e Psicoterapeuta













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