Sobre VIRGINDADE...texto de Rosanna Pavesi.



Antigamente, muito antigamente, havia dois termos, em latim, para definir uma mulher “virgem”...

Havia o termo virgo intacta que definia a mulher solteira e não deflorada e o termo mais genérico de virgo, usado simplesmente para qualificar uma mulher solteira, não casada, a “uma em si mesma”, a que pertencia a si mesma por assim dizer... Estranhamente, não havia nada disto no que concerne aos homens...

Gostaria de fazer dois comentários:

1. – Toda mulher quando casa, deixa de ser virgo, ou seja, deixa de ser solteira, enquanto escolha de estilo de vida e passa a ser uma domina (dona ou Sra. “fulana de tal”) ...Novamente, e estranhamente, nada disto acontece com o homem, que continua a ser “Sr. Fulano de tal...”. Ritos de passagem diferentes... A mulher deixa sua “virgindade” para trás, enquanto o homem “acrescenta uma dona” à sua vida... É para se pensar, não é?

2. – Metaforicamente falando, tanto o homem quanto a mulher são virgens desta experiência chamada casamento... São virgens de dividir o mesmo teto como casados, de fazer amor como casados, de viajar como casados, rir, chorar, ter insônia, tomar um porre, tirar férias, brigar, se reconciliar, escolher o filme a ver, etc. etc. etc. como casados, mesmo que tenham feito tudo isto com a mesma (ou outra) pessoa, como solteiros/as...

Então, por que não deixar essa nossa “virgindade compartilhada” participar da construção de nosso casamento? Acolher este “eu não sei nada” compartilhado como nosso guia ao longo do tempo? Permitir que o “Somos casados... e agora?”, “Nosso primeiro filho vai chegar... e agora?”, “Estamos ficando velhos... e agora?“ (e tantas outras situações mais) continuem em seu estado de “virgindade” pura, para que possam se des-velar, nos espantar, surpreender, aconchegar, desassossegar, emocionar, acolher ao longo desta viagem surpreendente a que chamamos de casamento, preservando esta sua qualidade de “ainda não vivido”, de novidade, renovação e descoberta perenes que trazem em seu bojo? Seríamos capazes disto? Confiamos o suficiente neste estado de perene virgindade frente à vida para fazer dele o nosso guia?

São Paulo, Abril de 2011

(Rosanna Pavesi - Psicologa Clínica/Psicoterapeuta de Abordagem Junguiana)





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